segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fantasmas


Com o passar dos anos,
A minha biografia amarelou
Como meus dentes.
A memória embranqueceu
Como meus cabelos,
O passado escureceu
Como o futuro.

Os filhos cresceram,
Casaram-se e mudaram-se.
O cachorro morreu,
O gato também,
Até o pó se retirou
Para lugares onde abrem as janelas.

A televisão antes me incomodava,
Agora preciso de aparelho para ouvi-la...
Minha única companhia.
Não tenho mais bagunça para organizar,
Não recebo visitas para me estressar,
Não gasto com pizzas nem refrigerantes,
Que sumiam nas mãos dos adolescentes.

Nem o telefone toca...
O despertador sim! Faço questão de saber que horas são,
Apesar de dormir menos horas com o passar dos anos
E estar acordada quando o dia amanhece e o galo acorda o relógio.
Tenho um rádio que fica ligado o dia todo,
As vozes dos radialistas afastam os meus fantasmas,
Que ficam espreitando, esperando
A hora que me deito.

É quando eles se aproximam,
Sentam-se na minha cama,
Seguram a minha mão e choram comigo.

O nome deles?
Arrependimento, fracasso e solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário