domingo, 19 de junho de 2011

Vinhedo: um pedaço da Itália


Nessas frias manhãs outonais, tenho me recordado muito de Vila Opicina. A semelhança com esse povoado italiano vai além das parreiras nuas e altivas dessa época do ano, que avisto nas plantações vinhedenses logo que o dia acorda. Pessoas vestidas com casacos, luvas e cachecóis marcham rapidamente com suas botas invernais, entrando nos empórios que cheiram a café quente. Carros apressados como formigas atarefadas, que depois do horário do rush matutino, desaparecem das ruas e permitem que a atmosfera de cidade tranquila retorne a esse agradável cantinho do mundo, onde ainda vivemos dias de passado.

Eu escolhi essa cidade pela sua semelhança com a linda paisagem onde vivi minha história durante dois anos.  Un piccolo paese, onde o outono é verde e frio como o daqui, salpicado de manacás e outras raras flores que insistem em colorir nossos dias sem calor, destacando-se à leve camada de gelo que a noite cobre sobre a natureza e as coisas, como se fosse um fino lençol de seda, para depois chegar o sol que aquece nossas tardes e esquenta nossas almas.


Opicina fica no alto de uma montanha. Daí começam as dessemelhanças com nosso interior paulista. A descida para a portuária Trieste, com suas cinzas do Império Romano, é feita de carro ou trem, beirando precipícios e com vista para o esplendoroso Castelo de Miramare e suas espécies botânicas colhidas ao redor do mundo pelo austríaco Almirante Maximiliano, que o mandou construir em 1856, e até hoje rasga a paisagem marítima com sua imponência. Trieste sofre o colapso do trânsito, e os sintomas são os famosos estacionamentos em fila dupla, em frente a prédios que não foram projetados para usuários de automóveis. A esses edifícios – sempre de poucos andares – foi adicionado um elevador com o passar dos anos (um modelo de mínimas dimensões, para caber no que antigamente era um suntuoso e espaçoso hall).

Lembro-me do Vento de Bora, misterioso e frio, atravessando o Mar Adriático, invadindo o golfo na época de neve e gelo. Andar nessas épocas é um exercício de resistência. Por vezes, faz-se necessário colocar cordas amarradas nas fachadas para que as pessoas consigam vencer a força do oponente invisível.

Trieste vive a mistura dos povos esloveno, croata e italiano, assim como nós vivemos com tantos povos. Ainda hoje, degustamos a miscigenação com italianos, não somente nas taças de vinho, mas em nossa cultura bordada por esse povo que atravessou mares, superou guerras e veio semear nosso solo com a cor da uva e nossos corações com exemplos cor de ouro.  

* Fotos de Vinhedo: Portal, Represa e Hopi Hari - Estado de São Paulo - Brasil



Anônimo disse...
Que lugar bonito, Simone. Você é uma sortuda! :-)
domingo, junho 19, 2011 3:07:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Linda, Linda a sua cidade
Que país heterogêneo, este nosso. Nunca vi igual.
Parece uma mistura de Marrocos, Itália, Alemanha e Portugal num único território.
Beijos
Ray
domingo, junho 19, 2011 3:07:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Que bonito, Simone!
bjs
domingo, junho 19, 2011 3:29:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Obrigada pelo excelente texto e belas fotos!
Abraços,
domingo, junho 19, 2011 7:30:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Mto linda a sua Vinhedo!
Um dia espero conhecê-la melhor.
domingo, junho 19, 2011 9:18:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
lindo texto! lembrei das suas cartas (seus "textos embriões") que você nos mandava contando suas aventuras em terras desconhecidas.. muito legal, Si!
domingo, junho 19, 2011 9:26:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Nosso lar é onde nosso coração está.
domingo, junho 19, 2011 9:29:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Olá Simone.

Belo relato sobre a cidade de Vinhedo, na qual trabalhei por vários anos, prestando serviços de consultoria na área da qualidade e segurança, para diversos condomínios.

Sou "orindi" e adoro à Itália, tanto, que já estive por lá várias vezes e realmente sua descrição tem muito a ver com a sua/nossa Vinhedo, devo retornar agora em Outubro, para passear rever meus parentes em Treviso.

Um abraço e boa manhã de outono, no quase inverno, por essas bandas brasileiras.
segunda-feira, junho 20, 2011 11:19:00 AM
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Anônimo Anônimo disse...
Lindo!! Fiquei emocionada, pois a minha família toda, por parte de pai e de mãe, veio da Itália...
segunda-feira, junho 20, 2011 11:24:00 AM
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Anônimo Anônimo disse...
Olá Simone, bom dia

Lindo texto querida, vc podia aproveitar e escrever mais sobre sua região, apostando alto nas semelhanças e desemelhanças com Vila Opicina em Itália. creio que tanto uma como a outra cidade irão gostar disso e quem sabe, patrocinar um bom livro, que achas?
segunda-feira, junho 20, 2011 11:56:00 AM
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Anônimo Anônimo disse...
Muito bom... deu pra sentir o frio e ver a paisagem,
obrigadim,
Bjks
segunda-feira, junho 20, 2011 12:08:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Obrigada, Simone ,Parabéns você é especial e feliz,queira Deus que um dia eu possa redigir um texto como o seu.
quarta-feira, junho 22, 2011 2:24:00 PM
 

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