quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Que mico!


Editora: Celacanto
Categoria: Crônicas para jovens
ISBN: 978-85-65253-06-2
1ª edição: 2012
Encadernação: Brochura Formato: 14 x 21 82 págs.
Capa: Celacanto

Simone Pedersen escreve para crianças e adultos. Neste livro, selecionamos crônicas que falem a língua dos jovens de hoje.

Conflitos, humor e amor, todas as emoções e alterações trazidas pela adolescência.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Flor do deserto


Editora: Celacanto
Categoria: Poemas
ISBN: 978-85-65253-07-9
1ª edição: 2012
Encadernação: Brochura Formato: 14 x 21 52 págs.
Capa: Paulo Branco


Meu mundo

Editora: Celacanto
Categoria: Crônicas
ISBN: 978-85-65253-05-5
1ª edição: 2012
Encadernação: Brochura Formato: 14 x 21 108 págs.
Capa: Celacanto

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O encontro


O vinho caríssimo escorre pela garganta sedenta preparando-o para a próxima degustação.
Do outro lado do bar, a moça pensa:
“- Com esse me deito, estou morrendo de solidão...”
E ele regozija em pensamentos carnais:
“Hoje me deleito, carne nova, sangue fresco!”
Horas depois, ele a deixa desacordada sob os lençóis lilases do seu quarto rosa. Antes de sair, coloca um objeto de sua antiga penteadeira – uma boneca de porcelana – aninhada em seus braços.
Entra no carro, com o vermelho-sangue ainda escorrendo pelo queixo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Você comeria baratas?


O mineiro Luiz Otávio P. Gonçalves, criador da cerveja Kaiser e da água de coco Kero Coco, tem um novo empreendimento, a Nutrinsecta, que se trata de uma produtora de insetos. Em março, a empresa deu um passo inédito no Brasil – pediu ao governo de MG, ao Ministério da Agricultura e ao IBAMA a certificação de que seus insetos podem ser consumidos por seres humanos. A decisão deve sair agora em junho. A produção de insetos para ração continuará como negócio principal da empresa. “Eu não seria capaz de comer uma barata, mas já experimentei larvas de besouro fritas e achei gostoso”, afirma Gonçalves. Quanto a levar baratas à mesa, ele concorda que haja uma “barreira cultural” no Brasil.

Eu prefiro uma fruta. Sem bichos, já que sofro de entomofobia. Sei que um inseto não pode me atacar ou devorar como um leão, mas a presença de uma barata pode me causar um ataque de pânico. Nunca gostei de acampar por ter medo dos insetos. Também nunca viajei até o Amazonas. Pescar, então, nem em sonho. Só de pensar nos mosquitos me picando, fico com as mãos suadas.  Sempre fui assim. Quando criança,  aos seis anos, fui pela primeira vez a uma fazenda. Sou cria de cidade. São Caetano não é exatamente uma cidade grande, mas chácaras e sítios eram lugares que eu só conhecia por livros. Nessa fazenda, nós nos hospedamos em uma casa que não tinha telas nas janelas nem nas portas. Eu sonhava com esse tipo de proteção dormindo e acordada. Havia ainda uma casa abandonada, porque a construção estava condenada, e ali os morcegos fizeram uma vila. Minha prima gostava de passar pela casa e observar os morcegos. Eu simplesmente não entrava. Para mim, morcego era um inseto gigante e pendurado de cabeça para baixo. Completando minha tortura, havia uma criação de bichos da seda. Para minha mãe e meu irmão, foram férias maravilhosas, com muito calor, ar fresco, cavalos e frutas. Mas eu só me lembro dos insetos.

Desde então sempre gostei de ficar em bons hotéis. Não preciso de luxo. Mas também não gosto de nada muito simples. Tem que ter ar-condicionado para não precisar abrir as janelas. Nunca se sabe se o preço baixo da diária foi economizado no dedetizador. Já aconteceu de eu chegar a uma casa de praia e ouvir a barata. Barata faz um tiqui-tiqui com as antenas que eu escuto de longe. Acendi a luz para vê-la na parede. Havia um ninho dentro do sofá da sala. Eu não consegui dormir a noite toda. Fui embora pela manhã depois de providenciar um assassinato em massa rápido e indolor. Sim, nessas horas eu esqueço todos os meus princípios; é pena de morte sem julgamento. Pegar as coitadas e soltar no jardim de jeito nenhum! Nunca mais aluguei casas. Como atraímos o que odiamos, um dia pedi comida chinesa, e ela veio premiada com uma baratinha. O dono do restaurante me ofereceu uma nova remessa de graça. Eu joguei o telefone na parede.

Sei que tem gente que come insetos e cia. – escorpiões, gafanhotos e até baratas. Outro dia vi, aqui na frente de casa, em Vinhedo, atravessando a rua calmamente, uma barata gigantesca, diferente, cheia de anéis e pouco arredondada. Procurei na internet e encontrei a resposta: trata-se da barata de Madagascar, que se alimenta de folhas e frutas e vive em florestas. Tem mesmo um bosque na frente de casa, aqui . Minha filha de nove anos tomou a iniciativa e pisou nela, rindo da minha cara, com a maior naturalidade, enquanto eu suava frio, me apoiava no poste e rezava. Essa espécie é a que criam em viveiros para servir de alimento. Ou criam como animais de estimação. Sim, animais de estimação. O tamanho delas chega a ser da palma da mão de um adulto em alguns países. São imensas! Pelo menos, não voam. Uma barata voadora é capaz de me deixar sem dormir por noites. Nunca se sabe onde está a companhia. As baratas andam sempre em casal. Repugnantes, mas fieis... Sentadinhas em um bolo deixado sem cobrir sobre a pia, iluminadas pela luz diáfana da lua atravessando a janela e cobrindo-as de uma aura prateada... Baratas albinas? Argh!

Ouvi dizer que barata tem cheiro. Elas possuem uma secreção repugnante liberada por glândulas, a qual tem um odor nauseabundo característico. Nunca senti esse odor já que eu paro de respirar instintivamente quando escuto ou vejo uma delas. Existe até nome para essa minha fobia: catsaridafobia. O medo faz as coisas parecerem mais perigosas do que realmente são.  Sinto falta de ar, palpitação, por causa de um pequeno inseto que pode ser destruído facilmente – isso é, se formos rápidos o suficiente, é claro, porque elas são mais velozes que carros de Fórmula 1. Imagine uma barata sem cabeça driblando você...  E se ela erra a direção e pensa que seu pé é a rota de fuga? Elas vivem até um mês sem cabeça e não sentem dor. Os homens dizem que medo de barata é coisa de mulher. Não é não. Faça um teste, diga bem baixinho ao pé da orelha de um homem: “Querido, não se mexa, que tem uma barata subindo pelas suas pernas e eu vou buscar o veneno lá na lavanderia”... 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Crianças livres


Crianças livres brincam, lêm e pensam por si mesmas. Podem escravizar homens, mulheres e crianças com correntes ou contratos, ameaças ou moralidades estúpidas criadas por homens tolos, mas ninguém, ninguém mesmo, nada, nada mesmo pode acorrentar uma mente que pensa e sonha. Literatura é alimento de sonhos. Dê livros para suas crianças. Para que sejam livres, mesmo que a vida coloque quatro paredes ao redor delas. Elas usarão suas asas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Encontro com o vampiro


Não era uma sexta-feira nem era um sábado. Mas os dias da semana agora já se misturavam. Qualquer dia era dia de estar com ele. Em qualquer momento.  Em qualquer instante. Um telefonema ao entardecer a havia tirado de seus pensamentos terrenos. Ele poderia vê-la naquela noite de segunda-feira. E não poderia ser uma data melhor. Todo o universo conspirava para que aquele encontro fosse perfeito. Marcaram para as oito ou nove da noite. Não importava o horário, nem o tempo juntos, só importava que se vissem. Fossem minutos, eternos minutos.


Não era uma sexta-feira nem era um sábado. Mas os dias da semana agora já se misturavam. Qualquer dia era dia de estar com ele. Em qualquer momento. Em qualquer instante. Um telefonema ao entardecer a havia tirado de seus pensamentos terrenos. Ele poderia vê-la naquela noite de segunda-feira. E não poderia ser uma data melhor. Todo o universo conspirava para que aquele encontro fosse perfeito. Marcaram para as oito ou nove da noite. Não importava o horário, nem o tempo juntos, só importava que se vissem. Fossem minutos, eternos minutos.

Eles combinaram de se encontrar num lugar diferente. Num parque repleto de flores com rosas de todas as cores. Mas as que lhes deram boas-vindas foram as vermelhas, desabrochando ao compasso de seu andar. Conforme caminhavam por aqueles corredores no silêncio da noite, somente o vento fazia-se ouvir. Até ele, o vento, estava ansioso pelos acontecimentos. Sabia que nem sempre poderia testemunhar um encontro daqueles. E, em respeito, dançava sublimemente ao redor deles, fazendo notar-se, mas sem lhes desviar a atenção um do outro.

Os dois pararam para conversar, lado a lado, com os corpos tocando-se de leve. As estrelas os observavam, refletindo sua luz sobre o casal, ansiosas pelo que estava por acontecer. Subitamente, ele lhe roubou um beijo, e o vento parou, ruborizado. Até as rosas ficaram emocionadas e se inclinaram para chorar gotas de orvalho. O universo generoso ainda lhes guardava mais surpresas para aquela noite.

Como dois adolescentes, fugiram das plateias e procuraram um lugar discreto, onde pudessem se beijar até que não soubessem mais onde começava um e terminava o outro. Dentro desse esconderijo, ele mal fechou a porta, começaram a dançar. Uma dança sensual e morna, que aos poucos foi se acelerando até que os dois viajaram por galáxias distantes. Tinham sido apresentados há pouco tempo, mas já se conheciam há séculos, todos os segredos e caminhos. Ele então a seduziu novamente, como um vampiro em busca de vinho, abraçou-a por trás e afastou seus cabelos, lentamente. Beijou seu pescoço e cobriu seu corpo com o dele.

Os rígidos ponteiros do relógio pararam. As rosas, de longe na praça, voltaram-se em direção ao esconderijo deles. As vermelhas, completamente orvalhadas, arrepiaram-se e exalaram seu melhor perfume, que o vento soprou, presenteando-os, enquanto eles caminhavam para o centro do universo. Lentamente, ele os conduziu numa viagem a outro mundo, onde só existiam vampiros e presas, e o tempo não era.

Chuva

E quando a chuva chega de mansinho, escorre pela face das casas, pelos braços das árvores e umedece o tapete de grama, sobe o cheiro de vida, o sal da terra misturado com o açúcar que cai dos bicos dos bem-te-vis voejantes, formando o néctar dos deuses. Nessas horas, quem espiar pela janela verá que tem saci correndo atrás de redemoinho, fadas colando estrelas no céu e anjos gargalhando azul, enquanto fazem bolas de neve com as nuvens.