quarta-feira, 22 de junho de 2011

O nosso cisne negro

2011 começou com duas obras de muita polêmica.  O filme “Cisne Negro” (vencedor de inúmeros prêmios independentes) atingiu já o Brasil, com o tema focado em diversas variantes da loucura: a nossa e a loucura dos outros que afetam nossas vidas no papel de mãe, orientador-educador, amigo, entre outros. A bailarina (Natalie Portman, Oscar de melhor atriz) é cobrada pela mãe castradora que nunca admitiu não ter talento raro, culpando a filha pela sua própria falta de sucesso. Motivo pelo qual se realizava e se vingava ao mesmo tempo na filha. A amiga que pulula entre a admiração e a inveja, sentimentos irmãos, que a ajudava e  a prejudicava deliberadamente. A loucura do orientador que busca atingir o núcleo obscuro de força da bailarina, através de ameaças, ofensas e desafios. O resultado é catastrófico para quem não consegue lidar com a pressão e o sofrimento. Para outros é maravilhoso, observando-se apenas o sucesso atingido e não os meios para se chegar a ele, ignorando o sofrimento próprio e o alheio. No filme fica evidente a violência psicológica e emocional que a mãe infringe a filha que é tratada como um ser não pensante até em idade adulta. Enquanto isso, o livro Battle Hymn of the Tiger Mother, (não foi lançado no Brasil ainda), da chinesa-americana Amy Chua – em tradução livre “Canto sagrado de batalha da mãe-tigre”, gera polêmica nos Estados Unidos desde janeiro. A autora foi até ameaçada de morte por criticar duramente a forma de educar ocidental. Ela é professora do curso de Direito na Universidade de Yale e respeitadíssima em sua área. As duas filhas, hoje adolescentes, foram criadas nos moldes chineses, como ela: sem televisão, sem amigos fora da escola e com uma disciplina militar. Em entrevista para um programa americano, ela comenta que quando uma filha quis parar com as aulas de violino por não conseguir tocar uma difícil música, ela a obrigou a ensaiar mais ainda, até que ela aprendesse que era capaz de tocar qualquer música e que gostamos de tudo o que fazemos bem. Ou seja, para ela o gostar vem naturalmente depois do domínio; os filhos não sabem decidir o que é melhor para eles e disciplina lapida o diamante bruto que somos ao nascer. 


A personagem do Cisne Negro, primeira bailarina da Companhia, também sofria com o perfeccionismo, exigido às vezes pela mãe, mas exigido por si própria constante e doentiamente. A segunda bailarina ardia em paixão por tudo e imperfeita não conseguiu o papel principal, mas vivia em plenitude e dançava muitíssimo bem, sem carregar o peso do mundo nas costas. A perfeccionista vivia para dançar apenas e impressionar aos outros com sua arte. Para aceitar a nossa imperfeição é preciso muita humildade e equilíbrio: tudo é passageiro e no final não são os aplausos do público que farão diferença, mas sim o carinho dos poucos que realmente nos amam. Rir dos próprios erros dá leveza à vida. Quem não consegue rir de si próprio acaba sendo o seu maior inimigo, não aceita sua humanidade e exige vôos cada vez mais altos. A pergunta é onde fica o equilíbrio perfeito, pois se de um lado os filhos criados sem limites sofrerão as consequencias previstas, do outro temos os exageros e abusos que adoecem as almas e transformam crianças em aves sem asas. Exceções existem: uma benção para os pais, filhos que não precisam de rédeas e fazem as escolhas certas desde pequenos. Os cisnes brancos eram considerados os únicos da espécie até que um dia descobriu-se negros cisnes na Austrália. Foi um choque. Quem nunca se chocou quando vislumbrou o cisne negro que vive dentro de um aparente cisne branco? Será que dentro do cisne negro não vive um cisne branco? Será que não somos todos “zebrados”? Um cisne só é feliz quando é livre e pode voar. Mesmo assim, até os pais cisnes – brancos e negros - levam os filhotes sobre as costas ou embaixo das asas quando nascem. Com a Mãe Natureza não se discute. Somente ela é sana na sua natural perfeição.

domingo, 19 de junho de 2011

Vinhedo: um pedaço da Itália


Nessas frias manhãs outonais, tenho me recordado muito de Vila Opicina. A semelhança com esse povoado italiano vai além das parreiras nuas e altivas dessa época do ano, que avisto nas plantações vinhedenses logo que o dia acorda. Pessoas vestidas com casacos, luvas e cachecóis marcham rapidamente com suas botas invernais, entrando nos empórios que cheiram a café quente. Carros apressados como formigas atarefadas, que depois do horário do rush matutino, desaparecem das ruas e permitem que a atmosfera de cidade tranquila retorne a esse agradável cantinho do mundo, onde ainda vivemos dias de passado.

Eu escolhi essa cidade pela sua semelhança com a linda paisagem onde vivi minha história durante dois anos.  Un piccolo paese, onde o outono é verde e frio como o daqui, salpicado de manacás e outras raras flores que insistem em colorir nossos dias sem calor, destacando-se à leve camada de gelo que a noite cobre sobre a natureza e as coisas, como se fosse um fino lençol de seda, para depois chegar o sol que aquece nossas tardes e esquenta nossas almas.


Opicina fica no alto de uma montanha. Daí começam as dessemelhanças com nosso interior paulista. A descida para a portuária Trieste, com suas cinzas do Império Romano, é feita de carro ou trem, beirando precipícios e com vista para o esplendoroso Castelo de Miramare e suas espécies botânicas colhidas ao redor do mundo pelo austríaco Almirante Maximiliano, que o mandou construir em 1856, e até hoje rasga a paisagem marítima com sua imponência. Trieste sofre o colapso do trânsito, e os sintomas são os famosos estacionamentos em fila dupla, em frente a prédios que não foram projetados para usuários de automóveis. A esses edifícios – sempre de poucos andares – foi adicionado um elevador com o passar dos anos (um modelo de mínimas dimensões, para caber no que antigamente era um suntuoso e espaçoso hall).

Lembro-me do Vento de Bora, misterioso e frio, atravessando o Mar Adriático, invadindo o golfo na época de neve e gelo. Andar nessas épocas é um exercício de resistência. Por vezes, faz-se necessário colocar cordas amarradas nas fachadas para que as pessoas consigam vencer a força do oponente invisível.

Trieste vive a mistura dos povos esloveno, croata e italiano, assim como nós vivemos com tantos povos. Ainda hoje, degustamos a miscigenação com italianos, não somente nas taças de vinho, mas em nossa cultura bordada por esse povo que atravessou mares, superou guerras e veio semear nosso solo com a cor da uva e nossos corações com exemplos cor de ouro.  

* Fotos de Vinhedo: Portal, Represa e Hopi Hari - Estado de São Paulo - Brasil



Anônimo disse...
Que lugar bonito, Simone. Você é uma sortuda! :-)
domingo, junho 19, 2011 3:07:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Linda, Linda a sua cidade
Que país heterogêneo, este nosso. Nunca vi igual.
Parece uma mistura de Marrocos, Itália, Alemanha e Portugal num único território.
Beijos
Ray
domingo, junho 19, 2011 3:07:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Que bonito, Simone!
bjs
domingo, junho 19, 2011 3:29:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Obrigada pelo excelente texto e belas fotos!
Abraços,
domingo, junho 19, 2011 7:30:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Mto linda a sua Vinhedo!
Um dia espero conhecê-la melhor.
domingo, junho 19, 2011 9:18:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
lindo texto! lembrei das suas cartas (seus "textos embriões") que você nos mandava contando suas aventuras em terras desconhecidas.. muito legal, Si!
domingo, junho 19, 2011 9:26:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Nosso lar é onde nosso coração está.
domingo, junho 19, 2011 9:29:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Olá Simone.

Belo relato sobre a cidade de Vinhedo, na qual trabalhei por vários anos, prestando serviços de consultoria na área da qualidade e segurança, para diversos condomínios.

Sou "orindi" e adoro à Itália, tanto, que já estive por lá várias vezes e realmente sua descrição tem muito a ver com a sua/nossa Vinhedo, devo retornar agora em Outubro, para passear rever meus parentes em Treviso.

Um abraço e boa manhã de outono, no quase inverno, por essas bandas brasileiras.
segunda-feira, junho 20, 2011 11:19:00 AM
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Anônimo Anônimo disse...
Lindo!! Fiquei emocionada, pois a minha família toda, por parte de pai e de mãe, veio da Itália...
segunda-feira, junho 20, 2011 11:24:00 AM
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Anônimo Anônimo disse...
Olá Simone, bom dia

Lindo texto querida, vc podia aproveitar e escrever mais sobre sua região, apostando alto nas semelhanças e desemelhanças com Vila Opicina em Itália. creio que tanto uma como a outra cidade irão gostar disso e quem sabe, patrocinar um bom livro, que achas?
segunda-feira, junho 20, 2011 11:56:00 AM
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Anônimo Anônimo disse...
Muito bom... deu pra sentir o frio e ver a paisagem,
obrigadim,
Bjks
segunda-feira, junho 20, 2011 12:08:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Obrigada, Simone ,Parabéns você é especial e feliz,queira Deus que um dia eu possa redigir um texto como o seu.
quarta-feira, junho 22, 2011 2:24:00 PM
 

domingo, 12 de junho de 2011

Rosas Vermelhas


Os enamorados vivem duas vezes. O tempo funde-se nos seres enamorados, misturando passado, presente e futuro. Como em um jogo de videogame, ganham uma vida extra. Uma é a vida normal, a da rotina, a do mundo material. A outra é uma vida bônus, um acréscimo, uma ampliação da consciência universal em cada um de nós, uma luz que denuncia as cores do mundo tornando o céu mais azul, anunciando o entardecer como uma aquarela de tons arroxeados beijando o morno do alaranjado solar e os pássaros que cantam em harmonia com sua coreografia de balé no palco azul do mundo – asas esticadas, bico levantado e pés alinhados -.  Nosso olhar se torna seletivo e as flores se sobressaem as ervas daninhas. Nossos sentidos todos ficam transtornados, exacerbados e involuntariamente mapeiam as belezas que antes despercebidas se escondiam quando passávamos. Quando amamos, levitamos, e mesmo assim, enxergamos o que está rasteiro e o que está no alto. Passamos de mero figurante a personagem principal de um filme em 3D. O amor nos torna uma pessoa melhor, mais saudável, mais caridosa, mais tolerante e acessível. O amor nos transforma naquilo que é o nosso melhor. Nesse outro ser que inala pausadamente o perfume das rosas e expira boas intenções.

De todos os amores na vida, nenhum é tão traiçoeiro e adorável ao mesmo tempo como o amor romântico.  De todas as flores, a rosa. De todos os perfumes, o da rosa. De todas as cores, o vermelho da rosa. De todos os veludos, o das pétalas de uma rosa. Os enamorados se transformam em botões de rosas que se encontram, seus espinhos caem por terra, suas folhas tornam-se braços que se procuram; a pele tem perfume rosado; o rosto se avermelha em tímidos suspiros, corados de amor. Acidente ou destino? Conquista ou bênção? Os caminhos para se chegar ao amor verdadeiro nunca foram totalmente desvendados. Sabe-se, apenas, que quem sofre de amor romântico e é retribuído tem o sofrimento mais doce dos mundos e nunca quer sarar. A dor da saudade é uma dor amiga. A dor das lembranças quando longe é uma ansiedade com a certeza que o encontro fará com que o mundo pare para os dois. Afastar-se de um amor que une dois universos e os transforma em um céu bordado de estrelas, desenhando uma vida de único sentido, é impossível. Felizes são os que encontram seu par cedo na vida. Muitos procuram a vida toda e não percebem quando ele passa fantasiado, escondido sob olhares que buscam o chão, envergonhados por traírem o maior dos segredos... Um amor verdadeiro pode se esconder em um jardim repleto de coloridas flores, impedindo que você o identifique, até que ele murche de solidão. Fique atento. Permita-se amar. Observe as rosas. A rosa simboliza o amor dos casais enamorados, a perfeição que Deus criou, o encontro, as almas que se atraem ignorando fronteiras, distâncias, idade, sexo, classe social, cultura e idioma.  O reconhecimento pela íris que ilumina a ponto de cegar seu par, que nada mais enxerga além da pessoa amada. Se as paixões são estrelas, lindas, fortes, piscantes e limitadas, o amor é o cometa que rasga o nosso céu e nos mostra o desconhecido em nós mesmos. Estrelas se apagam. Os cometas são eternos porque mesmo quando não mais os vemos, deixam nossa história marcada para sempre. Mesmo quando idos, continuam a passar em nossa frente, como flashbacks involuntários, e não tenho dúvidas de que na hora de partirmos, não são as paixões que nos receberão do outro lado, somente os amores genuínos, do amor cristão ao amor romântico. A coroa de flores representa nossa despedida da vida, da vida de solteiro, da vida de estudante: flores do campo, lírios, alfazemas, pequenas margaridas, tulipas, rosas brancas, amarelas ou cor-de-rosa... Mas cada pessoa tem a sua rosa vermelha, aquela pela qual anseia e deseja segurá-la na mão na sua última viagem, a que representa o amor romântico, o encontro do par, o companheiro eterno, o fim da procura.

O Dia dos Namorados não é somente o dia doze de junho. O Dia dos Namorados é todos os dias em que acordamos e, ao pensarmos no nosso par, sorrimos. Porque o amor saudável não dói. O verdadeiro amor é uma benção.

Elvis, o eterno namorado, com sua voz marcante, gravou Let it be me, dizendo exatamente isso. Gostaria que a tecnologia houvesse evoluído ao ponto dessa música tocar enquanto o leitor lesse essa crônica. Já existe algo parecido que em futuro breve será lançado, o jornal em papel com acesso ao mundo virtual em um computador próximo. Os milênios passam, a tecnologia evolui, mas o amor é o mesmo do começo dos tempos. Os que o encontram e são retribuídos, são mesmo abençoados.

“God bless the day I found you/I want to stay around you/And so I beg you/Let it be me…”

Tradução livre: Deus abençoe o dia em que te encontrei, eu quero sempre estar perto de ti, então eu te imploro, deixe que seja eu...

                                                                                                   Simone Pedersen


Anônimo disse...
Apesar do atraso em responder sua crônica (estava em Santos),v enho cumprimentá-la por mais esse seu interessante texto,
Abraços,
domingo, junho 19, 2011 2:43:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Sei que é a cara da Simone atual mais refinada e de gosto musical diferenciado!!! rsrsrs To Dream...
domingo, junho 19, 2011 2:43:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Cara Simone

Obrigado pelo e.mail mas nunca consigo mandar e.mails para você . Qual é o segrego que o e.mail de vocês não aparece aqui? Ando achando que é o Sombra!
Abração
domingo, junho 19, 2011 2:44:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Bonito e agradável o texto.
domingo, junho 19, 2011 2:44:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Isso não diz respeito a solteiras como eu...
4 em 4 relacionamentos só vejo o resultado da bad trip, mas linda a metáfora das rosas vermelhas. bjk
domingo, junho 19, 2011 2:44:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Lindo, como sempre!! Beijos!
domingo, junho 19, 2011 2:44:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
E como esta segunda vida é mais gostosa do que a primeira.!
Tão gostosa que faz a fente se esquecer da outra
domingo, junho 19, 2011 2:45:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Lindo texto, Simone!

Agradecemos o envio.
domingo, junho 19, 2011 2:45:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Amo isto minha querida amiga poeta Simone...Sou uma eterna namorada, romântica para além de além. Esta crônica toca o coração dos amantes, viu? Beijos pra ti!
domingo, junho 19, 2011 2:45:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Lindo, Simone!!! Uma bênção receber suas crônicas... Meu dia fica mais cor-de-rosa... Beijos!!!!!!!
domingo, junho 19, 2011 2:46:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Lindo!
Obrigado!
domingo, junho 19, 2011 2:46:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Bonita crônica!
Sei que vai gostar deste video, como eu gostei! Bjs
domingo, junho 19, 2011 2:46:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Muito linda, Simone! Fala da magia do amor sem ser piegas...
Parabéns!
bjs
domingo, junho 19, 2011 2:47:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Oi Simone. Prazer te conhecer. Muito legal a sua crônica.
domingo, junho 19, 2011 2:49:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
querido adorei este texto. Nao acho piegas amor romântico.. só não tenho muita paciência pra este exercício diário dos casais.....as vezes as pessoas confundem com dependência física...Pra mim o melhor da história é sentir saudade, pois saudade é a plenitude do querer e do amor....A cada dia sinto mais evidente o fato de que o amor é o sentimento que nos difere de todos os outros animais.. os animais protegem e alimentam pela preservação da espécie, fazem sexo por instinto,vivem em grupos pela defesa somente.. e vamos combinar... o amor e muito mais que tudo isso..
um beijo
domingo, junho 19, 2011 2:49:00 PM
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Anônimo Anônimo disse...
Simone - boa tarde.

Agradeço a linda mensagem.
Perfumou a minha tarde.
domingo, junho 19, 2011 10:23:00 PM