quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Instintos atávicos


Durante algum tempo, todos os dias, eu recebia a visita de um bando de macaquinhos, que vinham pela hora do almoço, comer bananas e maçãs.

Eles vêm lá da Anhanguera todas as manhãs,  chegando ao condomínio por volta das sete horas. Costumam frequentar uma praça, depois alguma casa, e estão sempre trocando de “restaurante”. No final do dia retornam por onde vieram e desaparecem como malabaristas, equilibrando-se pelos fios elétricos sem segurar um guarda-chuva.

Semana passada, alguns retornaram. Os adultos, sempre mais atrevidos, logo desceram e vieram pegar as frutas das mãos da minha filha, enquanto os jovens, adolescentes típicos, ficavam um pouco distante, frisando a sua recém-adquirida independência. Observando os saguis que chegaram voando de uma árvore à outra, mesmo sem asas, percebemos que um estava doente, com o pelo todo levantado e caroços pelas costas. Quando desceu para comer, vimos que eram dois minúsculos filhotes, agarrados às costas da mãe como se dois carrapatos fossem. A alegria da minha filha foi contagiante! “Dois bebezinhos, dois bebezinhos!”, gritava ela. Imaginei como seria eu caminhar o dia todo com dois bebês agarrados às minhas costas. Subir e descer escadas. Entrar e sair do carro. E lá estava ela, a orgulhosa mãe, saltando de uma árvore à outra, enfrentando desafios, procurando outros lugares para se alimentar sem tanta competição. Pensei no amor de mãe (e pai).  O que somos capazes de fazer por nossas crias. Viramos malabaristas,  voamos sem asas, enfrentamos perigosos seres e os defendemos até do Minotauro. Coroando esse santo amor, vem a total desnecessidade de reconhecimento. O importante é vê-los feliz. Por eles, vendemos bens, mudamos de casa, cedemos a sonhada viagem, trocaríamos a saúde, se possível fosse. Não queremos ser venerados por nada, é nossa a necessidade de fazer o máximo que pudermos. Se retribuírem um milésimo do nosso afeto, já nos sentiremos rainhas (ou reis).

É a natureza, a essência da vida, o que dá sentido à nossa existência. E a macaquinha sabe disso. Desagregou-se do grupo, provavelmente para evitar o ataque de algum macho indelicado ou de uma fêmea enciumada. Desbravadora, seguiu os instintos atávicos. Enquanto se dedica às novas vidas, não se esqueceu, mesmo a distância, dos jovens filhotes, ainda se certifica que estão bem e alimentados. Exatamente como nós, quase humanos.

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