sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ANUNCIARAM E GARANTIRAM - Crônica de fim de ano. Ou do fim do mundo.


Autor: Maurício Veneza

Mesmo que vocês não conheçam a interpretação original da Carmen Miranda, devem se lembrar, graças a regravações recentes, de uma música do Assis Valente que começava assim:

“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar”

A letra falava de alguém que, diante de uma destas profecias sobre o iminente fim do mundo, mandava as convenções sociais às favas (expressão da época). Caía na gandaia (outra expressão antiga) e depois, não tendo se concretizado o vaticínio, tinha que arcar com as consequências:

“Beijei na boca de quem não devia
peguei na mão de quem não conhecia
dancei um samba em traje de maiô
e o tal do mundo não se acabou.”

Pois é, tenho boas e más notícias. A boa é que 2012 está às nossas portas; a má é que em 2012 o mundo vai se acabar. Pelo menos é o que afirmam alguns especialistas em interpretação do calendário maia (temos especialistas para tudo hoje em dia). Uns, como o cineasta Roland Emmerich, levaram a sério. Se ele não acreditasse que o mundo vai se acabar em 2012 – e com ele os críticos – não teria tido a coragem de levar às telas aquele filmeco sobre o tema. Outros, como eu, deram risada. Imaginei uma daquelas belas moças do tempo do noticiário, apontando para um mapa-múndi e dizendo, em voz pausada:

“Tempo instável, sujeito a chuvas de meteoros no fim do período, enchentes de lava e tsunamis...”

Posso apostar que não vai acontecer (se eu perder a aposta, não deixem de me cobrar!). Em minha longa existência ouvi várias vezes o anúncio do fim do mundo. Neste mesmo ano de 2011, pelo que disseram, o mundo deveria ter acabado umas duas ou três vezes. Em outubro, espalharam até outdoors, especificando com exatidão a data do evento. Só faltava  o destaque: “única apresentação”. Suponho que tanta divulgação fosse para evitar que alguém, por esquecimento, descuido ou falta de espaço na agenda, deixasse de comparecer ao espetáculo.

Fico pensando como estes dedicados profissionais do alarmismo têm a cara-de-pau de sair à rua no dia seguinte às suas previsões sem um saco de papel na cabeça. Talvez disponham de uma eficiente assessoria de imprensa, capaz de emitir um comunicado salvador, preparado de antemão, mais ou menos assim:

“Lamentamos informar que, por motivos de força maior, o fim do mundo foi transferido para data ainda não definida, a qual, assim que possível, será comunicada a todos os interessados, etc., etc.” e terminando por “Contamos com a sua compreensão”.

Talvez, como nos livros do Douglas Adams, o  mundo já tenha acabado, só que ninguém notou. O certo  é que nunca faltarão pessoas que, ao ver os preços no mercado ou ler a última fofoca sobre os famosos da TV, porão a mão na cabeça e dirão: “É o fim do mundo!”.

O bom é que também não faltam pessoinhas como o Pedro, meu primeiro neto, que chegou às vésperas do Natal. Para estas, o mundo está apenas começando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário