quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Rei Tempo


Que peso é esse nas minhas costas, senão os anos que foram me curvando enquanto eu me curvava perante sua figura majestosa?

O tempo é um bom rei. No começo se impõe com vigor, nos faz correr para alcançá-lo, nos ensina a mensurá-lo em aniversários, efemérides e despedidas. Rege nossos caminhos, nos obriga a tomar decisões quando jovens que afetarão todo o nosso futuro, sem termos a menor noção do que nos aguarda.

Contudo, quando amansamos, ele passa a mão em nossos cabelos brancos e nos mostra que ainda podemos desfrutá-lo. Aprendemos o milagre do pão. Multiplicamos nossos momentos bons. Descobrimos o mistério da felicidade, ou ao menos, como evitar muitos momentos infelizes.

Priorizamos as verdades sem nos importarmos se elas têm dentes navalhados. Reconhecemos o valor dos amigos. Detectamos superficialidades de longe e buscamos abrigo no conteúdo da companhia de poucos. Sonhamos, sim, nunca é tarde para sonhar! Sonhos que tem os pés nos chãos e caminham decididos pelo firmamento.

E amamos. Amamos muito mais. Amamos sem fronteiras, sem cadeados, sem fantasias. Amamos, tão profundamente, que sabemos o momento de guardar todo o nosso amor em uma pequena caixa de veludo marinho, com um lindo laço de cetim vermelho. Colocamos no fundo da gaveta, embaixo de sedas e rendas, ao lado de um sache com perfume de rosas.

Todos os dias, abrimos a gaveta ao amanhecer e da pequena caixa tiramos forças para seguir mais um dia, com o coração aquecido por lembranças embaladas em eternidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário