quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A morte da cerejeira

Quando não sabemos as respostas, só nos resta orar e enviar beijos de boa-noite àqueles que viajaram; ouvir a voz de Deus, nem que seja em uma única palavra. É impossível sentir ódio. É impossível não amar, mesmo que tenhamos sido proibidos de fazê-lo. Por isso, observamos o trem de longe. A terra vermelha e seca mostra a realidade. A fotografia fria torna-se morna com um beijo de saudade. Dizem que amor não dói. Mas a saudade mata. Mata a alma da gente. O trem apita e o pássaro voa longe, alto como as nuvens, belo como um bailarino que rodopia pelo céu deixando um rasgo no azul. Ele vai além das montanhas, onde não enxergamos quem parte. Talvez tenha outro ninho, talvez tenha outra ave, talvez tenha outro Deus. O funeral é um ritual de despedida quando a morte se apresenta vestida de negro. Qual o ritual de despedida quando outra vida se apresenta vestida de arco-íris? O trem voltará um dia, com outros passageiros, com outras estórias. O pássaro voltará um dia, quando o inverno acabar. Mas nem o trem nem o pássaro serão os mesmos. A cada partida, são acrescidos de lágrimas e de risos passados. Enquanto isso, o vento sopra nuvens de paz, abençoadas pela luz do sol. Quem fica, continua. Acorda cedo, trabalha, se alimenta, sonha, ri e chora. As flores da cerejeira observam o homem, o pássaro e o trem juntos na primavera. A cerejeira sombreia o trem, é casa para o pássaro e alimento para o homem. Ela morre para que eles vivam felizes. E, na felicidade deles, ela encontra os nutrientes necessários para renascer na próxima estação.

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