terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O tango da vida

O quinto filho
Deitada na cama,
Coberta de silêncio,
Escuto o escuro
Do meu dia.

Menino franzino, com olhos e cabelos negros escorrendo pela sua testa teimosamente. Quinto filho de Dona Maria das Dores, Jusué era um menino vencedor. Vencera sarampo, caxumba, meningite até. Sua mãe creditava às suas rezas. A vizinha enfermeira, trabalhava no Posto de Saúde da cidade de Guariné, e repetia que suas mãos puxavam o menino do Vale da Morte cada vez que ele escorregava na beirada, enquanto o Padre Severino creditava suas vitórias ao fato de o menino ser coroinha da igreja desde os sete anos.

Cada um deles concordava, contudo, que não era por causa da Mãe Zíbia, benzedeira e macumbeira. Ela acendia velas coloridas e falava com voz grossa quando o pequeno adoentava; proclamava que os espíritos do mal queriam levá--lo porque ele traria muita alegria ao mundo.

Para os donos do sítio onde Maria das Dores e o marido João da Silva residiam e trabalhavam como caseiros, era apenas um acaso, uma sorte qualquer, que mantinha o menino fora das estatísticas de mortalidade infantil do país.

Incomodava-os o fato de o menino consumir tanto tempo dos pais, que apresentavam atestados que a natureza se recusava a ler. O mato crescia, as galinhas tinham fome, o lixo se acumulava, estivesse Jusué doente ou não.

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