sábado, 19 de fevereiro de 2011

Trovas maravilhosas


Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.

Olavo Bilac:

Mulher de recursos fartos!
Como é que está impenitente,
tendo no corpo dois quartos,
dá pousada a tanta gente?

Menotti Del Picchia:

Saudade, perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê.

Mário de Andrade:

Teu sorriso é um jardineiro,
meu coração é um jardim.
Saudade! Imenso canteiro
que eu trago dentro de mim.

Cecília Meireles:

Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar.
As águas vão consentindo
- esse é o destino do mar.

Carlos Drummond de Andrade:

Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te, embora, o preço,
calco teu ouro no chão.

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